Dois pesos, duas medidas: Operações policiais em SP e RJ levantam debate sobre estratégia e letalidade


As recentes operações policiais deflagradas no país expõem um contraste gritante nas estratégias de segurança pública, reacendendo o debate sobre a letabilidade das ações e a eficácia no combate ao crime organizado. Enquanto uma megaoperação no Rio de Janeiro resultou em um número recorde de mortes, uma ação em São Paulo, focada no braço financeiro de facção, demonstrou ser possível atingir alvos de alto valor com um custo humano drasticamente menor – embora o saldo final tenha sido de um suspeito morto em confronto.


A Ação Desastrosa no Rio: Vidas Perdidas em Foco

A operação no Rio de Janeiro, que teve como alvo o Comando Vermelho, se consolidou como uma das mais letais da história do estado, com um número chocante de óbitos, incluindo policiais.

  • Elevado Custo Humano: Os dados oficiais e extraoficiais apontam para dezenas, e possivelmente mais de 100, mortes, entre suspeitos e agentes de segurança.

  • Críticas à Estratégia: Organizações de direitos humanos, especialistas e até mesmo o governo federal classificaram a operação como "desastrosa" e um "fracasso" para a segurança pública e para a sociedade, levantando denúncias de execuções.

  • Foco na Territorialidade: O objetivo principal da ação no Rio era combater a expansão territorial do Comando Vermelho, resultando em confrontos em áreas de alta densidade populacional, como os complexos do Alemão e da Penha.

O Ataque Estratégico em SP: Mirando o Dinheiro do Crime

Em São Paulo, o Ministério Público (MPSP) e a Polícia Militar (PM), através do Gaeco e do Baep, miraram a estrutura financeira do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Campinas e cidades do interior, numa tática que prioriza a descapitalização do crime.

  • Foco na Lavagem de Dinheiro: A Operação Off White mirou o "coração financeiro" da facção, atingindo empresários, agiotas, traficantes e até influencers ligados a esquemas de lavagem de dinheiro e transações imobiliárias fraudulentas.

  • Resultados Estratégicos: Foram cumpridos mandados de prisão preventiva, incluindo a detenção de figuras importantes como Eduardo Magrini, o "Diabo Loiro", e filhos de lideranças do PCC. O bloqueio de 12 imóveis de luxo e contas bancárias representa um golpe direto na capacidade operacional e expansão do grupo.

  • Menor Letalidade: Embora o balanço final da operação em Campinas tenha registrado um suspeito morto em confronto com a polícia e um sargento da PM ferido (em estado estável), a ação demonstrou a capacidade de desmantelar o braço financeiro do crime organizado com um patamar de violência significativamente reduzido em comparação ao RJ. A discrepância entre as operações reacende o questionamento inicial: por que a descapitalização, que atinge a base de sustentação do crime, não é a prioridade máxima em todas as ações de combate?

O Contraste: Eficácia ou Carnificina?

A comparação entre as duas operações é inevitável e dolorosa.


Enquanto a operação paulista busca "asfixiar" o crime cortando a sua fonte de recursos, a megaoperação fluminense, apesar de ter prendido traficantes, resultou em uma perda de vidas que dificilmente será justificada pela efetividade no longo prazo, transformando o combate ao crime em uma trágica carnificina que traumatiza comunidades inteiras.

O debate que se impõe é: a busca por números de presos e apreensões deve se sobrepor à preservação da vida e a uma estratégia inteligente que desmonte a estrutura criminosa, e não apenas o seu "varejo"? A ação estratégica de São Paulo sugere que a resposta é não.

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