Palmas, 3 de setembro de 2025 — A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira a segunda fase da Operação Fames-19, que abalou o núcleo político do governo do Tocantins. Por decisão do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e a primeira-dama Karynne Sotero Campos foram afastados de seus cargos por um período de 180 dias.
Investigação mira fraudes em contratos emergenciais
A operação investiga um esquema de fraudes em licitações e desvio de recursos públicos durante a pandemia de Covid-19, entre os anos de 2020 e 2021. Segundo a Polícia Federal, o governo estadual teria firmado contratos irregulares para o fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, aproveitando-se do estado de emergência para burlar processos licitatórios.
Mais de R$ 97 milhões foram pagos nesses contratos, com um prejuízo estimado de R$ 73 milhões aos cofres públicos. Parte dos valores teria sido lavada por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos envolvidos.
Atingindo o topo do poder
A ação desta quarta-feira representa um avanço significativo nas investigações, atingindo diretamente o Palácio Araguaia e a Assembleia Legislativa do Tocantins, onde foram cumpridos 51 mandados de busca e apreensão por mais de 200 agentes federais.
Além do governador e da primeira-dama — que também ocupa o cargo de secretária extraordinária de Participações Sociais — outros políticos e empresários são alvos da operação. A investigação aponta que o grupo teria se beneficiado de emendas parlamentares destinadas à assistência social para alimentar o esquema.
Repercussão e transição
Com o afastamento de Wanderlei Barbosa, o vice-governador Laurez Moreira (PSD) assume o comando do estado. Em nota, Barbosa afirmou que respeita as instituições, mas considera a medida “precipitada”, alegando que os contratos investigados foram firmados na gestão anterior, quando ele ainda não era o ordenador de despesas.
Contexto político e histórico
Wanderlei Barbosa já havia sido alvo de busca e apreensão na primeira fase da Operação Fames-19, em 2024. Ele assumiu o governo em 2022 após a renúncia de Mauro Carlesse, também afastado por suspeitas de corrupção. Barbosa foi reeleito em 2022 com mais de 58% dos votos.
A nova fase da operação reacende o debate sobre o uso de recursos emergenciais durante a pandemia e a fragilidade dos mecanismos de controle em momentos de crise. O caso segue sob sigilo no STJ, e novas fases da investigação não estão descartadas.