O preço de uma mentira: quando fake news sobre o Pix favorecem o crime

Artigo de Opinião | Quando a desinformação está aliada ao crime organizado

Em um país onde o crime organizado movimenta bilhões e se infiltra nas engrenagens da economia formal, o governo federal tentou dar um passo ousado: monitorar transações via Pix realizadas por fintechs, com o objetivo claro de evitar lavagem de dinheiro. A proposta não criava impostos, não taxava o Pix, e tampouco ameaçava o cidadão comum. Era uma medida técnica, respaldada por órgãos como a Receita Federal e a Polícia Federal, para fechar brechas que permitiam que facções como o PCC lavassem dinheiro por meio de bancos digitais.

Mas a iniciativa foi soterrada por uma avalanche de desinformação.

O deputado federal Nikolas Ferreira, figura conhecida por sua habilidade de mobilizar massas nas redes sociais, publicou um vídeo alegando que o governo queria taxar o Pix. A afirmação era falsa. Mas o vídeo viralizou com uma força que desafia qualquer lógica algorítmica. Milhões de visualizações, compartilhamentos em grupos de WhatsApp, indignação popular. O estrago estava feito.

O recuo do governo

Diante da pressão, o governo revogou a norma que exigia que fintechs reportassem movimentações suspeitas à Receita Federal. A medida, que poderia ter sido um divisor de águas no combate à lavagem de dinheiro, foi abandonada. Técnicos da Receita lamentaram publicamente a decisão. A Polícia Federal, por sua vez, seguiu investigando — e descobriu que facções criminosas estavam usando fintechs como seus próprios bancos digitais, aproveitando-se da falta de fiscalização.

Onde está Nikolas Ferreira agora?

É uma pergunta que ecoa com indignação: onde está o deputado agora que a Polícia Federal confirmou que o projeto combatia o crime organizado? Onde está a retratação? O esclarecimento? O compromisso com a verdade?

Silêncio.

Enquanto isso, o crime organizado agradece. A desinformação venceu. E o Brasil perdeu uma oportunidade histórica de modernizar sua fiscalização financeira e proteger a sociedade de um inimigo invisível, mas poderoso.

O que aprendemos?

  1. Fake news têm consequências reais — e perigosas.
  2. O debate público precisa ser qualificado, não manipulado.
  3. Medidas técnicas não podem ser reféns de narrativas populistas.
  4. O combate ao crime exige coragem, inteligência e responsabilidade.

Se queremos um país mais seguro, precisamos começar por valorizar a verdade. E cobrar responsabilidade de quem tem voz — e voto.

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