A China alcançou um marco histórico ao realizar, pela primeira vez, o reabastecimento de um reator nuclear de tório sem desligá-lo, um feito que pode revolucionar a matriz energética global. O avanço foi anunciado pela Academia Chinesa de Ciências e representa uma virada estratégica na busca por fontes limpas, seguras e praticamente inesgotáveis de energia.
O reator experimental, localizado em uma instalação secreta no Deserto de Gobi, utiliza sal fundido como meio de resfriamento e combustível à base de tório, um elemento abundante na crosta terrestre e considerado uma alternativa mais segura ao urânio. A operação inédita de reabastecimento contínuo elimina a necessidade de desligamento do sistema, aumentando a eficiência e reduzindo riscos operacionais.
O tório, ao ser transformado em urânio-233 dentro do reator, torna-se capaz de sustentar reações nucleares com alto rendimento energético. Diferente dos reatores convencionais, essa tecnologia não gera plutônio — o que reduz o risco de proliferação nuclear — e produz menos resíduos radioativos.
Um estudo geológico recente revelou que a mina de Bayan Obo, na China, pode conter tório suficiente para abastecer o país por até 60 mil anos, consolidando sua independência energética e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.
O projeto chinês resgata pesquisas abandonadas pelos Estados Unidos na década de 1970, especialmente as desenvolvidas no Laboratório Nacional de Oak Ridge. Ao retomar e aprimorar essa tecnologia, a China não apenas supera um desafio técnico de mais de meio século, como também se posiciona na liderança da corrida por energia nuclear limpa.
Com esse avanço, o país dá um passo decisivo rumo à neutralidade de carbono e à consolidação de uma matriz energética sustentável, segura e estratégica — um movimento que pode redefinir o equilíbrio energético global nas próximas décadas.