Antinha de Baixo resiste: comunidade centenária em Goiás enfrenta ameaça de despejo em disputa com família Caiado
Uma história que atravessa gerações e revela as tensões profundas entre permanência e poder. A comunidade de Antinha de Baixo, no interior de Goiás, formada por cerca de 400 famílias, está no centro de uma intensa disputa fundiária após decisão judicial que favorece familiares do governador Ronaldo Caiado (União Brasil). O risco de despejo mobilizou defensores de direitos humanos, autoridades do Judiciário e chamou atenção nacional para a fragilidade das populações tradicionais diante de grandes interesses políticos.
Processo antigo, feridas atuais
A disputa tem origem em um processo iniciado em 1945, retomado nos anos 1990, e que agora ameaça extinguir décadas de permanência das famílias na região. A área, ocupada há mais de cem anos por descendentes de pequenos agricultores e quilombolas, seria repassada à família Caiado com base em registros contestados pelos moradores.
Entre os nomes envolvidos está o do desembargador Breno Boss Caiado, primo do governador, que atuou como advogado no processo antes de sua nomeação ao Tribunal de Justiça de Goiás. Moradores questionam a isenção do processo e alegam não terem tido pleno direito à ampla defesa.
Vulnerabilidade e resistência
A maioria das famílias de Antinha de Baixo vive em condição de vulnerabilidade socioeconômica, com forte laço identitário ao território. “O que está em risco não é só a moradia, mas nossa história, nossa raiz”, afirmou uma líder comunitária em recente manifestação.
STF reconhece risco de dano irreparável
Em resposta ao apelo da comunidade e de entidades sociais, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar suspendendo a ordem de despejo. Fachin argumentou que o caso desrespeita diretrizes fundamentais de proteção às populações vulneráveis, especialmente no que diz respeito à mediação e análise social do território. Ele destacou o risco de “dano irreparável à comunidade”, caso a reintegração de posse fosse executada.
A suspensão é temporária e o mérito ainda será julgado. Enquanto isso, movimentos sociais, juristas e parlamentares pressionam por uma solução definitiva que respeite os direitos territoriais da comunidade e afaste suspeitas de favorecimento judicial.