O Objetivo Real dos EUA é o Petróleo", Afirma Vice-Presidente da Venezuela

PARA ALÉM DA GEOPOLÍTICA: O PETRÓLEO VENEZUELANO E O CUSTO HUMANO DE UM CONFLITO ESTRANGEIRO


Enquanto Washington e Caracas trocam acusações sobre a legalidade da apreensão do petroleiro Monje Sandino, uma pergunta crucial ecoa nas ruas de Maracaibo, nos bairros populares de Caracas e nos abrigos de refugiados na Colômbia: quem paga a conta final?

A retórica é bem conhecida. De um lado, os Estados Unidos afirmam que as sanções e ações como a apreensão de navios têm como objetivo "restaurar a democracia" e impedir que recursos financiem um governo considerado ilegítimo. Do outro, o governo Maduro denuncia um "roubo descarado" e uma "agressão imperialista". No centro desse cabo de guerra geopolítico, porém, está um povo que há uma década vive uma das piores crises humanitárias do hemisfério.

O Petróleo Como Sangue Nacional

A Venezuela não é apenas um país com petróleo; sua identidade moderna foi construída em torno do recurso. O petróleo financiou educação, saúde, infraestrutura e programas sociais por décadas. Sua apreensão por uma potência estrangeira, independentemente da justificativa legal, é sentida pela população não como uma medida contra um governo, mas como uma confiscação de um patrimônio coletivo.

"Aqui em Zulia, vemos os navios serem carregados desde sempre. Esse petróleo deveria virar remédios para os hospitais, comida para os mercados, peças para a indústria", desabafa Carlos Rojas, ex-trabalhador da PDVSA, hoje aposentado com uma pensão que mal chega a 10 dólares mensais. "Quando tiram nosso petróleo, não estão tirando de Maduro. Estão tirando do povo que precisa dele para sobreviver."

O Mito das "Sanções Inteligentes"

Defensores das sanções argumentam que são "direcionadas" e não afetam a população. A realidade venezuelana desmente essa tese. Um relatório de 2021 do Centro de Política Econômica e de Pesquisa (CEPR), de Washington, estimou que as sanções contribuíram diretamente para dezenas de milhares de mortes ao impedir importações de medicamentos, alimentos e equipamentos médicos.

"A apreensão direta de petróleo é a evolução lógica e mais agressiva desse embargo", analisa a professora de Direito Internacional Ana Herrera, da Universidade Central da Venezuela. "É a materialização do bloqueio. Você não apenas impede a venda, você confisca a mercadoria. Isso priva o Estado de qualquer receita, estrangulando sua capacidade de fornecer serviços mínimos, por mais precários que já sejam. O impacto humanitário é devastador."

A Voz dos Esquecidos

Em La Guaira, porto próximo a Caracas, famílias de pescadores reclamam que a tensão constante com navios estrangeiros e a crise na indústria petrolífera afetaram seus meios de subsistência. "O mar parece um campo de batalha, não nosso local de trabalho", diz María Corina, pescadora.

Para os milhões de venezuelanos que emigraram, a notícia da apreensão soa como mais um golpe contra qualquer esperança de recuperação rápida de seu país. "Cada barril que eles levam é menos chance de que eu possa voltar e encontrar um emprego, ver meus pais com uma vida digna", comenta Luis Fernández, que trabalha como entregador em Lima, Peru.

Um Apelo por Soluções que Coloquem o Povo em Primeiro Lugar

A crise venezuelana é complexa e multifacetada, com significativa responsabilidade do próprio governo na má gestão e em violações de direitos humanos. No entanto, especialistas em diplomacia e ajuda humanitária alertam que medidas unilaterais de força econômica raramente alcançam seus objetivos políticos declarados e sempre amplificam o sofrimento dos civis.

Organizações como a ONU e a Cruz Vermelha têm pedido repetidamente a despolitização da ajuda humanitária e o fim de sanções que afetem setores vitais. A apreensão de petróleo vai na direção oposta: politiza ainda mais um recurso vital.

O verdadeiro desafio para a comunidade internacional não é decidir qual governo tem o direito de vender o petróleo venezuelano, mas como garantir que os recursos da Venezuela sejam usados para aliviar a crise humanitária dentro e fora do país. Enquanto o debate ficar preso na retórica de "máscaras que caem", serão os venezuelanos comuns – já exaustos por anos de dificuldades – que continuarão pagando o preço mais alto.

A questão que fica, portanto, não é jurídica, mas moral: é justo que um povo seja privado de sua principal riqueza natural em nome de um confronto político no qual ele tem pouco ou nenhum poder de decisão? A resposta, para muitos venezuelanos, é um doloroso e resignado "não".

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