Ipixuna, no Amazonas, lidera ranking nacional de municípios com desenvolvimento crítico; acesso e infraestrutura são principais entraves


Um retrato detalhado das desigualdades regionais do Brasil foi revelado pelo mais recente Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), referente a 2023. O estudo, que funciona como um termômetro da qualidade de vida nos 5.570 municípios brasileiros, aponta que uma parcela significativa das cidades ainda enfrenta graves dificuldades nas áreas mais básicas: emprego, saúde e educação. No topo desta triste lista, figurando como o município com o pior índice de desenvolvimento do país, está Ipixuna, no interior do Amazonas.

O IFDM é um indicador que varia de 0 a 1, calculado com base em estatísticas públicas oficiais sobre Emprego & Renda, Educação e Saúde. Municípios com nota abaixo de 0,4 são classificados como de desenvolvimento crítico. Foi exatamente nesta faixa que se enquadraram os dez últimos colocados no ranking nacional, todos localizados nas regiões Norte e Nordeste, com forte predominância do estado do Pará.

Ranking dos 10 municípios com menor IFDM (2023):

  1. Ipixuna (AM)
  2. Jenipapo dos Vieiras (MA)
  3. Uiramutã (RR)
  4. Jutaí (AM)
  5. Santa Rosa do Purus (AC)
  6. Oeiras do Pará (PA)
  7. Fernando Falcão (MA)
  8. Limoeiro do Ajuru (PA)
  9. Melgaço (PA)
  10. Curralinho (PA)

Ipixuna (AM): O epicentro do desafio

Com pouco mais de 25 mil habitantes, Ipixuna é a representação mais aguda dos desafios enfrentados pela Amazônia profunda. Localizado a cerca de 1.200 km de Manaus, o município vive sob o jugo de uma geografia implacável. O acesso é majoritariamente fluvial, com viagens que podem durar dias, ou aéreo, dependente de pistas precárias e custos proibitivos. Esta logística extremamente difícil inviabiliza a economia formal, encarece todos os insumos, dificulta a manutenção de profissionais qualificados e limita drasticamente o acesso da população a serviços públicos essenciais.

Os dados do IFDM refletem essa realidade concreta. Em Emprego e Renda, a economia local é frágil, com alta dependência de subemprego e de ciclos econômicos sazonais. Em Educação, os desafios vão desde a falta de infraestrutura escolar adequada até a dificuldade de atrair e fixar professores. Na Saúde, a população depende de um sistema sobrecarregado, com unidades básicas distantes de muitas comunidades e acesso especializado praticamente inexistente sem o deslocamento para centros maiores.

Um ciclo persistente de vulnerabilidade

A situação de Ipixuna não é isolada, mas ilustra um padrão comum entre os municípios do ranking. São localidades marcadas por fatores estruturais, históricos e territoriais que se retroalimentam. A baixa infraestrutura de transporte e comunicação inibe investimentos, o que perpetua a falta de empregos formais. A escassez de oportunidades educacionais e profissionais alimenta o êxodo da juventude, e a baixa arrecadação municipal compromete os investimentos em serviços públicos, fechando um ciclo vicioso de subdesenvolvimento.

O IFDM como ferramenta de transformação

Especialistas afirmam que, mais do que um simples ranking, o IFDM deve ser encarado como um mapa de prioridades para gestores públicos e sociedade civil. Para uma cidade como Ipixuna, os números evidenciam onde os esforços precisam ser concentrados de forma urgente e planejada.

A superação desse quadro crítico exige estratégias integradas que dialoguem com as particularidades regionais. Isso inclui:

  • Investimentos em infraestrutura logística (portos, aeroportos, telecomunicações) para conectar o município.
  • Políticas de estímulo a cadeias produtivas sustentáveis da floresta, agregando valor localmente.
  • Programas de atração e fixação de profissionais nas áreas de saúde e educação, com incentivos concretos.
  • Fortalecimento da gestão pública municipal para melhor aplicar os recursos disponíveis.

O caso de Ipixuna coloca um holofote sobre a dívida histórica do país com suas populações mais isoladas. Romper o ciclo de atraso exigirá mais do que ações pontuais; será necessário um projeto de Estado contínuo e determinado, que garanta a milhões de brasileiros o direito básico a um desenvolvimento humano digno.

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