As autoridades colombianas anunciaram nesta semana a expulsão de nove membros do grupo religioso judaico radical Lev Tahor, após investigações que os vinculam a supostos casos de sequestro e abuso infantil. O caso ganhou dimensão internacional com a entrega de 17 menores resgatados às autoridades dos Estados Unidos, onde tramitam processos contra a seita.
A intervenção ocorreu após meses de monitoramento por parte da Migración Colombia e do Instituto Colombiano de Bienestar Familiar (ICBF). Os nove adultos expulsos – de nacionalidades israelense, estadunidense e guatemalteca – estavam em território colombiano com visto de turista, mas, segundo as autoridades, desenvolviam atividades incompatíveis com essa condição.
Os 17 menores, alguns deles supostamente vítimas de abusos físicos e psicológicos, foram colocados sob custódia do ICBF antes de serem repatriados aos EUA. A seita, conhecida por seus costumes ultraortodoxos rigorosos e pelo isolamento de suas comunidades, é investigada em vários países por alegações de violência doméstica, casamentos forçados de adolescentes e privação de educação básica.
Histórico controverso
O Lev Tahor ("Coração Puro") foi fundado em Israel na década de 1980 e possui comunidades em vários países, incluindo Guatemala, México e, anteriormente, Estados Unidos e Canadá. O grupo, que conta com algumas centenas de membros, vive sob regras extremamente restritivas: mulheres usam véus integrais (burcas), as crianças não recebem educação oficial e há relatos de casamentos arranjados com meninas a partir dos 12 anos.
Nos últimos anos, membros da seita têm se deslocado pela América Latina em busca de locais onde possam operar com menor vigilância. A Colômbia tornou-se mais um capítulo nessa mobilidade, mas as autoridades locais agiram rapidamente diante das denúncias.
Em comunicado, o diretor da Migración Colombia, Fernando García, afirmou: "A Colômbia não será refúgio para grupos que atentem contra os direitos das crianças". Ele destacou que a expulsão segue protocolos de proteção a menores e que o país cooperará com investigações internacionais.
Fontes do Departamento de Estado dos EUA confirmaram que os menores estão recebendo assistência psicossocial e que processos judiciais contra líderes do Lev Tahor estão em andamento. Em 2023, um tribunal dos Estados Unidos condenou vários membros por crimes como sequestro e tráfico de menores.
Silêncio da seita
Até o momento, o Lev Tahor não se manifestou publicamente sobre as expulsões na Colômbia. Em ocasiões anteriores, representantes negaram as acusações, classificando-as como "perseguição religiosa" e afirmando que vivem conforme suas tradições espirituais.
Organizações de direitos humanos, como Human Rights Watch, têm documentado por anos os supostos abusos do grupo. A intervenção colombiana é vista como uma vitória para redes de proteção infantil transnacionais.
"Esse caso mostra a importância da cooperação internacional para enfrentar grupos que exploram fronteiras para violar direitos", afirmou Elena Gómez, defensora da infância na região.
Os nove expulsos foram proibidos de retornar à Colômbia e constam agora em listas de vigilância migratória de vários países. Enquanto isso, o destino dos menores seguirá sendo determinado pelas autoridades de proteção infantil dos Estados Unidos, onde começa uma longa jornada de recuperação.