Em proposta formal, Hamas aceita libertar todos os reféns em troca de retirada total de Israel de Gaza

Grupo palestino apresenta contraproposta ao plano de Trump, abrindo mão do governo direto de Gaza em favor de um conselho de tecnocratas e demonstrando flexibilidade em negociações mediadas.

DOHA/Cairo – O movimento Hamas divulgou nesta sexta-feira uma resposta formal e detalhada ao chamado "Acordo do Século" do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, delineando sua visão para um cessar-fogo permanente e a futura governança da Faixa de Gaza. A proposta, entregue a mediadores egípcios e qataris, representa a posição mais clara e conciliatória do grupo desde o início do conflito.

Os três pilares centrais da contraproposta do Hamas são:

Troca Completa de Reféns pela Retirada Militar: O Hamas se compromete a libertar todos os reféns civis e militares ainda em seu poder. Em contrapartida, exige a retirada completa e total de todas as tropas israelenses do território da Faixa de Gaza, pondo fim às operações militares.

Governança por Tecnocratas: Em uma concessão significativa, o grupo anunciou que está disposto a entregar a gestão administrativa e a reconstrução de Gaza a um "órgão independente de tecnocratas palestinos". Este governo técnico não seria indicado pelo Hamas, mas sim formado "com base no consenso nacional palestino e com apoio árabe e muçulmano", sugerindo a inclusão do Fatah, facção rival da Autoridade Palestina, e o aval de nações como Egito e Qatar.

Disposição Imediata para Negociações: O documento afirma a "disposição para iniciar imediatamente negociações através de mediadores" para acertar os detalhes do acordo, incluindo o cronograma de libertações e retirada, e a composição do governo de tecnocratas.

Análise: Uma Manobra Estratégica e Política


Analistas veem a proposta do Hamas como uma jogada astuta para capitalizar sobre a crescente pressão internacional sobre Israel e as divisões domésticas israelenses.

"O Hamas está se apresentando como o ator racional e flexível, em contraste com um governo israelense visto como intransigente", explica Karim Al-Masri, analista político com foco no Oriente Médio. "Ao abrir mão do controle administrativo direto de Gaza, ele remove um dos principais argumentos de Israel para continuar a guerra: a presença de um 'regime terrorista' na fronteira. Se Israel rejeitar esta oferta, arrisca-se a um isolamento diplomático ainda maior."

A menção ao "consenso nacional palestino" é vista como uma tentativa de forçar uma reconciliação com a Autoridade Palestina, baseada na Cisjordânia, e projetar uma frente unida para o mundo. No entanto, desavenças históricas entre Hamas e Fatah tornam essa união um desafio monumental.

A Reação de Israel e o Futuro do Plano Trump

Mais de um milhão de pessoas se manifestaram na capital iemenita, Saná, em apoio a Gaza, denunciando os crimes da ocupação israelense e o apoio norte-americano.

Fontes do governo israelense, que falaram sob anonimato, já receberam a proposta com ceticismo. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reiterou publicamente que o objetivo da guerra é a "destruição das capacidades militares e governativas do Hamas", e não uma simples retirada em troca de reféns. Para seu governo de coalizão, que inclui ministros nacionalistas radicais, aceitar um acordo que permita ao Hamas sobreviver como entidade política é inaceitável.

O plano de Trump, que previa um autogoverno palestino limitado sob supervisão israelense, foi inicialmente rejeitado pelo Hamas. Agora, ao responder com sua própria visão, o grupo tenta reconfigurar os termos do debate, ignorando em parte os detalhes do plano americano e focando em uma solução pós-guerra.

Enquanto isso, famílias dos reféns e movimentos pacifistas em Israel pressionam o governo para considerar a proposta. "Esta é a luz no fim do túnel mais clara que tivemos em meses", declarou um representante das famílias. "Não podemos desperdiçar esta chance de trazer nossos entes queridos para casa."

A bola agora está no campo de Israel. Os mediadores egípcios e qataris aguardam uma resposta oficial de Jerusalém, que definirá se o caminho para a diplomacia está aberto ou se o conflito continuará seu curso sangrento.

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