Começa nesta sexta-feira, 03 de outubro, o julgamento virtual do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro na 1ª Turma do STF. O homem que já vestiu a toga como símbolo da moralidade pátria agora senta-se do outro lado da mesa, acusado de caluniar ninguém menos que o ministro Gilmar Mendes — a quem teria insinuado que “vende habeas corpus”. Pois é, aquela frase que parecia mais meme de grupo de WhatsApp virou processo real, com direito a possível condenação por crime contra a honra.
A ironia está servida em bandeja de prata: no tribunal, quem aparece como julgador é Cristiano Zanin, o advogado que defendeu Lula e viu seu cliente virar réu tantas vezes graças às mãos firmes de Moro na Lava Jato. Agora, a cena se inverte. O juiz virou réu. O advogado virou ministro. E o público assiste a essa novela como se fosse a terceira temporada de uma série ruim da Netflix que a gente insiste em maratonar só para ver até onde vai o absurdo.
Moro, que já se apresentou como paladino da justiça, agora terá que explicar por que resolveu brincar de stand-up jurídico às custas de um ministro do STF. Já Gilmar, o eterno alvo de piadas sobre habeas corpus, mostra que não tem o menor problema em transformar a piada em ação penal. Afinal, quem disse que a Justiça não tem senso de humor?
E Zanin? Ah, Zanin deve estar se sentindo como aquele aluno aplicado que foi esnobado pelo professor e, anos depois, volta como reitor para decidir o futuro do antigo mestre. O destino adora esses plots de novela mexicana — e a política brasileira fornece material de sobra.
No fim, a gente percebe que a Terra pode até não ser plana, mas a justiça brasileira consegue dar tantas voltas e capotar tantas vezes que a sensação é exatamente essa. Moro no banco dos réus, Zanin na cadeira de julgador, Gilmar processando quem ousa duvidar da sua retidão... É quase um roteiro escrito por algum roteirista cínico que desistiu da ficção para se dedicar ao noticiário político.
Ai, ai... essa Terra plana que capota.