Desde sua reeleição em janeiro de 2025, o presidente Donald Trump tem promovido uma série de medidas que reacendem o debate sobre os limites da democracia americana. Com ações que incluem censura institucional, militarização de fronteiras, restrições à imprensa e perseguição a opositores, analistas apontam que os Estados Unidos vivem uma inflexão autoritária que guarda semelhanças inquietantes com regimes como os da Hungria, Turquia e Venezuela.
Liberdades em xeque
Entre as medidas mais controversas está a criação do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), responsável por reestruturar ou extinguir dezenas de órgãos estratégicos, como a USAID e o CDC. A justificativa oficial é a “redução da burocracia”, mas críticos denunciam o desmonte de instituições que garantem direitos civis e sociais.
Além disso, Trump intensificou a repressão a manifestações, enviando tropas federais para conter protestos e impondo restrições severas à entrada de estrangeiros. O orçamento do ICE (agência de imigração) foi ampliado, e deportações em massa se tornaram rotina.
Estado de exceção disfarçado
O jurista Pedro Serrano, especialista em autoritarismo, alerta para o uso de estratégias típicas de regimes autoritários dentro de democracias formais. “Trump promove um estado de exceção fluido, sem rupturas explícitas, mas com impactos profundos na vida dos cidadãos e na estrutura institucional do país”.
Essa abordagem, segundo Serrano, é semelhante à adotada por líderes como Viktor Orbán (Hungria) e Recep Tayyip Erdoğan (Turquia), que corroem a democracia por meio de decretos e legislações restritivas, mantendo uma fachada institucional.
Isolamento internacional e alinhamento ideológico
Trump também rompeu com organismos multilaterais como a OMS e o Acordo de Paris, adotando uma postura unilateralista que ecoa o isolacionismo de regimes autoritários. A aproximação com líderes da extrema direita global, como Jair Bolsonaro, reforça esse eixo ultraconservador transnacional.
O “Projeto 2025”, articulado pela Heritage Foundation, é apontado como a espinha dorsal dessa reconfiguração ideológica, com propostas que incluem a reversão de direitos LGBTQIA+, restrições ao aborto e promoção de valores pró-natalistas e religiosos.
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Democracia em risco
Embora os Estados Unidos ainda mantenham instituições democráticas formais, o segundo mandato de Trump representa, para muitos especialistas, um teste de estresse à resiliência do sistema. A concentração de poder, o uso político da máquina estatal e a erosão de direitos fundamentais são sinais claros de alerta.
Como afirmou Enzo Traverso, autor do conceito de “pós-fascismo”, a nova direita não precisa abolir a democracia para governar autoritariamente — basta moldá-la aos seus interesses.