PREVENT SENIOR ENFRENTA AÇÃO BILIONÁRIA POR CONDUTA NA PANDEMIA


Cobaias e médicos infectados. MP aponta que a Prevent Senior, ligada ideologicamente ao bolsonarismo, fez com que médicos trabalhassem infectados, obrigou a prescrição de cloroquina, entre outros delitos. Ação pede indenização de quase R$ 1 bilhão

A operadora de planos de saúde Prevent Senior está na mira da Justiça e do Congresso por sua conduta durante a pandemia de Covid-19. O Ministério Público do Trabalho (MPT) ajuizou uma ação civil pública contra a empresa, pedindo uma indenização de quase R$ 1 bilhão por danos morais coletivos e individuais, além de medidas para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores e dos pacientes da rede. Paralelamente, a CPI da Covid no Senado avança na investigação sobre o envolvimento da Prevent Senior com um suposto "gabinete paralelo" de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia.

Segundo a denúncia do MPT, a empresa permitiu que médicos trabalhassem infectados pelo coronavírus, não exigiu a vacinação nem o uso de máscara, ordenou que médicos prescrevessem medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, como a cloroquina, e praticou assédio moral contra os que se opunham às orientações da direção. 

A ação também aponta que a Prevent Senior realizou estudos clínicos irregulares com os pacientes, sem o consentimento deles ou a aprovação dos órgãos competentes, e omitiu casos e óbitos pela doença.

A ação é baseada em depoimentos de 57 profissionais que trabalharam ou trabalham na Prevent Senior, além de 37 mil documentos obtidos pelo MPT, como e-mails, áudios, vídeos, prontuários, receitas, boletins de ocorrência e relatórios de fiscalização. A investigação do MPT começou em abril de 2020, após denúncias de médicos e familiares de pacientes.

A Prevent Senior disse, em nota, que não pode se manifestar sobre a ação porque sequer conhece o seu teor. A empresa afirmou que sempre seguiu as normas sanitárias e que os seus protocolos foram aprovados por comissões de ética. A empresa também negou que tenha realizado estudos clínicos com os pacientes e que tenha pressionado os médicos a prescreverem determinados medicamentos.


A ação do MPT se soma a outras investigações que envolvem a Prevent Senior, como a CPI da Covid no Senado, que apura se a empresa participou de um suposto "gabinete paralelo" de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia. A CPI ouviu, na semana passada, a médica Bruna Morato, que representou os médicos da Prevent Senior e apresentou documentos e áudios que comprovariam as irregularidades da empresa. A CPI também convocou o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, que deve depor nesta quarta-feira (7).

A Prevent Senior é uma das maiores operadoras de planos de saúde do país, com cerca de 500 mil beneficiários, em sua maioria idosos. A empresa se tornou conhecida por oferecer um modelo de atenção primária, com hospitais e clínicas próprios, e por defender o chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19, baseado em medicamentos sem eficácia comprovada. A empresa também foi uma das primeiras a registrar casos e óbitos pela doença no Brasil, em março de 2020.

A ação bilionária do MPT e a investigação da CPI são uma punição que, infelizmente, não repara a dor de quem perdeu entes queridos para a Covid-19 na rede da Prevent Senior. Segundo dados do Ministério da Saúde, a empresa registrou mais de 12 mil casos e mais de 2 mil óbitos pela doença até setembro de 2021. Entre as vítimas, estão personalidades como o médico Anthony Wong, o jornalista Ênio Mainardi e a empresária Regina Hang, mãe do dono da rede de lojas Havan.

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