Mestre em Química, professor Junior Andrade: Da Pesquisa de Excelência ao Afastamento das Salas de Aula

Um estudo científico que revela o potencial antibacteriano de compostos naturais contra o cancro cítrico contrasta com a realidade do professor que liderou parte da pesquisa, hoje afastado do ensino após sofrer violência em sala de aula.

Envira/AM – O artigo "Chemical Compounds from Ocotea neesiana Demolition Wood and Their Effect on the Growth of Xanthomonas citri subsp. citri", publicado no Journal of the Brazilian Chemical Society, ganha destaque não apenas pela descoberta de substâncias capazes de combater uma das piores doenças da citricultura mundial, mas também pela história por trás de um de seus autores: o professor mestre Junior Andrade Chaves. Enquanto sua contribuição científica avança no combate a patógenos agrícolas, sua carreira docente está suspensa devido a um episódio de violência que chocou a comunidade educacional.

O estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e outras instituições, identificou compostos na madeira de Ocotea neesiana (conhecida como "louro-artiu") com ação antibacteriana contra a Xanthomonas citri, bactéria que causa o cancro cítrico – doença responsável por perdas milionárias na agricultura. Junior Andrade, então vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Química da UFAM, participou ativamente do processo de extração e análise química, essencial para isolar substâncias como o α-cadinol e o diterpeno 16-metilesteritol A, que se mostraram eficazes no controle da bactéria.

"Esses compostos podem ser a base para alternativas sustentáveis aos bactericidas à base de cobre, que contaminam solos e geram resistência", explica a professora Maria da Paz Lima, coordenadora do estudo. O trabalho não apenas valoriza resíduos de madeira, mas também abre caminho para soluções ecológicas no agronegócio.

O Paradoxo do Professor Pesquisador

Enquanto a pesquisa ganha reconhecimento internacional, Junior Andrade enfrenta um cenário oposto em sua vida profissional. Em 2024, o professor foi vítima de agressões físicas e psicológicas após solicitar que uma aluna entregasse seu celular durante uma aula em uma escola pública de Envira/AM. O caso, amplamente divulgado na imprensa regional, revelou a escalada de violência contra educadores.

Episódios como esse causam traumas na vidas pessoas, ainda mais quando a vítima se dedicou anos à educação e à ciência, mas hoje se vê afastado da sala de aula por conta daquilo que "combatemos" a falta de educação e consequentemente a violência. Apesar de continuar envolvido em pesquisas, seu afastamento do ensino básico evidencia uma crise estrutural: a desvalorização dos professores e a impunidade diante de ataques a profissionais da educação.

Entre o Reconhecimento Científico e o Abandono Profissional

A história de Junior Andrade ilustra um contraste cruel: enquanto sua expertise contribui para avanços científicos, sua voz como educador foi silenciada pela violência. "É triste ver um profissional tão capacitado sendo afastado justamente por cumprir seu papel de manter o ambiente educacional disciplinado", comenta pai de aluno que preferiu não se identificar.

O caso reacende o debate sobre a necessidade de políticas públicas que protejam os professores e promovam respeito nas escolas. Precisa-se urgentemente de valorização real, não apenas discursos. A mesma sociedade que se beneficia da ciência precisa defender quem a produz – dentro e fora dos laboratórios.

Um Futuro em Suspenso

Enquanto aguarda decisões judiciais e processos disciplinares relacionados ao episódio de agressão, Junior Andrade se dedica a novos projetos de pesquisa, mas não esconde a saudade das salas de aula.

Seu nome, agora associado a descobertas científicas relevantes, também se tornou símbolo de uma luta maior: a por educação digna e segura para todos.

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