São Paulo, 17 de agosto de 2025 — Entre a promessa de libertar as mulheres dos riscos da gravidez e os receios de desumanizar um dos processos mais naturais da vida, a verdade é que o chamado “robô de gestação” coloca a China mais uma vez no centro do debate global sobre ética, tecnologia e o futuro da reprodução humana.
A empresa chinesa Kaiwa Technology, sediada em Guangzhou, anunciou que está desenvolvendo um robô humanoide equipado com um útero artificial funcional, capaz de gerar um bebê humano até o parto. Segundo a companhia, o primeiro nascimento está previsto para 2026, o que marcaria um divisor de águas na história da biotecnologia.
Como funciona o robô de gestação?
O protótipo, apresentado na Conferência Mundial de Robótica de 2025, em Pequim, combina engenharia biomédica e inteligência artificial para simular com precisão o ambiente uterino humano. O sistema inclui:
- Um útero biomecânico com líquido amniótico artificial;
- Cordão umbilical sintético para nutrição fetal;
- Sensores que monitoram o desenvolvimento do embrião em tempo real;
- Algoritmos que ajustam temperatura, hormônios e nutrientes conforme necessário.
Avanço ou ameaça?
A proposta da Kaiwa Technology reacende discussões profundas sobre os limites da intervenção tecnológica na vida humana. Especialistas em bioética alertam para os riscos de desvincular o processo de gestação da experiência humana, enquanto defensores da inovação destacam o potencial de reduzir mortes maternas, ampliar o acesso à reprodução e oferecer alternativas para pessoas inférteis ou em situações de risco.
“A gestação é mais do que um processo biológico. É também uma experiência emocional, social e simbólica. Automatizá-la pode ter consequências imprevisíveis para o vínculo entre mãe e filho”, afirma a antropóloga brasileira Lívia Monteiro, pesquisadora em ética da tecnologia.
China no epicentro da revolução
Com esse projeto, a China reforça sua posição como líder em biotecnologia e inteligência artificial, mas também se torna alvo de críticas internacionais sobre os limites éticos da inovação. O país já havia causado controvérsia em 2018 com o nascimento dos primeiros bebês geneticamente modificados, e agora volta ao centro das atenções com uma proposta ainda mais ousada.
Se a previsão da Kaiwa Technology se confirmar, o nascimento do primeiro bebê gerado por um robô humanoide em 2026 será um marco que levanta tantas perguntas quanto possibilidades. Estaremos diante de uma nova era da reprodução humana — ou de um experimento que desafia os fundamentos da nossa própria humanidade?