Enquanto o governo Lula propõe medidas para corrigir distorções históricas do sistema tributário — como a taxação de grandes fortunas e heranças — setores empresariais e políticos ligados à direita se mobilizam contra, alegando que tais medidas seriam “punitivas” ou “antiprodutivas”. A realidade, no entanto, é que essas propostas atingiriam menos de 0,5% da população brasileira e poderiam gerar até R$ 40 bilhões por ano para investimentos em saúde, educação e infraestrutura.
Essa oposição ideológica ignora o fato de que o sistema tributário brasileiro é regressivo: quem paga mais proporcionalmente são os pobres, por meio de impostos indiretos embutidos em produtos e serviços. Como bem disse João Pedro Stédile, do MST: “Os empresários aparecem na imprensa como se fossem os que pagam impostos. Na verdade, quem paga é o trabalhador”.
A recusa em aceitar políticas redistributivas não é apenas uma questão econômica — é um fenômeno social que beira a imbecilidade coletiva. A Escola de Frankfurt, especialmente pensadores como Theodor Adorno e Max Horkheimer, já alertava para os perigos da razão instrumental: uma racionalidade voltada apenas para o lucro, que desumaniza e aliena.
Adorno, em sua crítica à indústria cultural, apontava como o entretenimento e o consumo são usados para anestesiar a consciência crítica das massas. Hoje, vemos algo semelhante entre parte da elite: uma alienação voluntária, sustentada por bolhas ideológicas e redes de desinformação, que os impede de enxergar a urgência da justiça social.
Pierre Bourdieu também contribui para essa análise ao definir o conceito de habitus — estruturas mentais e sociais que moldam a percepção e a ação dos indivíduos. O habitus da elite brasileira parece estar preso a um modelo de mundo onde desigualdade é naturalizada e qualquer tentativa de redistribuição é vista como ameaça.
A rejeição sistemática à taxação de grandes fortunas, como vimos recentemente na Câmara dos Deputados, não é apenas um entrave político — é um sintoma de uma elite que se recusa a abrir mão de privilégios, mesmo diante de um país com mais de 33 milhões de pessoas passando fome. É o egoísmo institucionalizado, travestido de “liberdade econômica”.
Como diria o filósofo francês Michel Foucault, o poder não se exerce apenas por meio de leis, mas também por discursos. E o discurso da elite brasileira — que se diz vítima de um Estado opressor — é, na verdade, uma estratégia para manter intacta a estrutura de dominação.
A prisão de Sidney Oliveira é um lembrete de que parte da elite não apenas se opõe à justiça social — ela a sabota. E faz isso não por desconhecimento, mas por conveniência. A luta por um sistema tributário mais justo não é uma cruzada ideológica, é uma necessidade moral e econômica.
Como escreveu Max Horkheimer: “O avanço técnico se acompanha de um processo de desumanização.” Que não deixemos o Brasil avançar tecnicamente enquanto retrocede humanamente.