Adultização Infantil e o Vazio Regulatório das Big Techs: O Caso Boca de 09 Escancara um Problema Sistêmico
O recente episódio envolvendo o influenciador mirim conhecido como Boca de 09 — que viralizou ao dirigir um carro sem habilitação pelas ruas de São Paulo, supostamente realizando corridas de Uber — reacende um alerta grave: a crescente adultização infantil promovida e amplificada pelas redes sociais, somada à ausência de regulação efetiva das big techs.
Crianças em papéis de adultos
Vinícius Oliveira Santos, de apenas 17 anos, transmitiu ao vivo sua imprudência, dirigindo o carro da mãe sem habilitação e colocando em risco sua vida, a dos passageiros e de terceiros. A cena, longe de ser isolada, reflete um fenômeno preocupante: menores de idade assumindo comportamentos e responsabilidades que não condizem com sua fase de desenvolvimento, muitas vezes incentivados por algoritmos que premiam o engajamento a qualquer custo.
A exposição precoce à fama, à monetização e à validação digital transforma crianças em produtos — e seus pais, em gestores de uma carreira que ignora limites legais e éticos.
Falta de responsabilização
O caso gerou indignação não apenas pela infração de trânsito, mas pela resposta institucional: policiais que deveriam aplicar a lei optaram por tirar fotos com o jovem e liberá-lo. A Polícia Militar abriu investigação, mas o episódio revela uma falha mais profunda — a negligência das autoridades diante da exploração infantil disfarçada de influência digital.
Big Techs e o silêncio conveniente
Enquanto isso, o Brasil ainda engatinha na criação de uma legislação robusta que responsabilize essas empresas por conteúdos que envolvem crianças e adolescentes — seja pela exposição indevida, seja pela omissão diante de riscos evidentes.
Um chamado à ação
O caso Boca de 09 não é apenas um escândalo pontual. É um sintoma de um sistema que falha em proteger os mais vulneráveis. É urgente que o Ministério Público, o Conselho Tutelar e o Congresso Nacional atuem com firmeza — não apenas punindo os responsáveis diretos, mas criando mecanismos legais que obriguem as big techs a protegerem crianças em seus ambientes digitais.
A infância não pode ser palco de likes. E a sociedade não pode continuar aplaudindo enquanto crianças são empurradas para o abismo da adultização.